Protocolo de Manchester: como funciona a classificação de risco na urgência

Imagine a seguinte cena: um pronto-socorro movimentado, com dezenas de pacientes chegando ao mesmo tempo, todos em busca de ajuda. Alguns com dores intensas, outros apenas com sintomas leves.
No meio desse cenário, a equipe precisa decidir com agilidade: quem deve ser atendido imediatamente e quem pode aguardar com segurança?
Essas escolhas são vitais — e é justamente nesse cenário que o Protocolo de Manchester ganha protagonismo.
Criado para organizar a prioridade dos atendimentos nos serviços de urgência e emergência, esse sistema de triagem é utilizado no Brasil e em diversos outros países.
Para estudantes de Medicina e futuros profissionais da área, entender como ele funciona é essencial, não apenas para a prática clínica, mas também para oferecer um cuidado mais humano, seguro e eficiente.
Se você chegou até esse post, pode ser que se interesse pela carreira médica não é mesmo? Então, prepare-se para descobrir o que é o Protocolo de Manchester, como ele é aplicado na prática e o que significam as cores que definem os níveis de urgência.

O que é o Protocolo de Manchester?
O Protocolo de Manchester é um método estruturado de classificação de risco adotado em hospitais e prontos-socorros ao redor do mundo.
Ele foi implementado pela primeira vez em 1997, na cidade de Manchester, no Reino Unido, resultado da colaboração entre médicos e enfermeiros de nove hospitais da região.
Desde então, tornou-se referência em triagem hospitalar por ser objetivo, padronizado e baseado em evidências clínicas.
No Brasil, é amplamente utilizado na rede pública, especialmente em hospitais universitários e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).
Na prática, o protocolo organiza os pacientes conforme a gravidade dos sintomas, definindo quem precisa ser atendido imediatamente e quem pode aguardar.
Isso não apenas salva vidas, como também otimiza recursos, melhora o fluxo de trabalho e humaniza o atendimento.
Para que serve o Protocolo de Manchester?
Muito além de um simples sistema de organização, o Protocolo de Manchester tem uma função estratégica nos serviços de saúde. Ele busca assegurar que cada paciente receba o atendimento adequado no tempo certo.
Os principais objetivos incluem:
- Identificar rapidamente pacientes em risco iminente de morte;
- Garantir que cada pessoa seja atendida conforme a gravidade de seu quadro;
- Organizar o fluxo de entrada e permanência nas unidades de urgência e emergência;
- Evitar a superlotação nas áreas críticas do hospital;
- Comunicar com clareza o tempo de espera estimado para cada paciente e sua família;
- Reavaliar periodicamente os pacientes que estão aguardando, garantindo segurança durante a espera.
Tudo isso contribui para reduzir desigualdades no acesso, minimizar riscos clínicos e otimizar o desempenho das equipes.
Como funciona a triagem por cores no atendimento hospitalar?
O ponto central do Protocolo de Manchester é a triagem por cores, que atribui uma cor a cada paciente, representando o nível de urgência do seu atendimento.
Essa classificação é feita por um profissional de Enfermagem capacitado e considera fatores como sintomas, sinais vitais, escala de dor, histórico do paciente e risco de agravamento. Veja como cada cor funciona!
Cor Vermelha
Emergência – atendimento imediato (0 min)
Essa é a classificação mais crítica. O paciente corre risco iminente de morte e não pode esperar.
Casos como parada cardiorrespiratória, politrauma, estado de choque e coma profundo entram nesta categoria. Aqui, a conduta é direta: encaminhar imediatamente ao atendimento.
Cor Laranja
Muito urgente – até 10 minutos de espera
O paciente ainda apresenta risco significativo à vida, mesmo que não esteja em colapso. Exemplos incluem dor torácica intensa, sangramento ativo, crise convulsiva recente ou dificuldade respiratória grave.
A janela para intervenção é pequena, por isso o atendimento deve ser rápido.
Cor Amarela
Urgente – até 60 minutos de espera
Inclui situações clínicas que, embora sem risco imediato de morte, requerem atenção dentro de um prazo razoável.
Casos de dor moderada, febre alta persistente, vômitos contínuos ou lesões com edema e hematoma, por exemplo, se enquadram nesta classificação.
Cor Verde
Pouco urgente – até 120 minutos de espera
Indica que o paciente apresenta um quadro clínico estável e sem risco. Resfriados, cefaleia leve, pequenos ferimentos ou dores musculares são exemplos comuns.
Nesses casos, a espera sem comprometer a saúde.
Cor Azul
Não urgente – até 240 minutos de espera
Trata-se da menor prioridade. Abrange queixas de natureza leve e sem risco, muitas vezes relacionadas a demanda ambulatorial ou administrativa, como curativos simples ou orientações.
Qual é a importância da classificação de risco para o sistema de saúde?
O uso da classificação de risco fortalece os pilares da atenção em saúde, especialmente em um sistema público como o SUS. Ele promove:
- Eficiência no uso dos recursos humanos e materiais;
- Equidade, garantindo que todos sejam atendidos conforme a gravidade, e não por ordem de chegada;
- Transparência, com comunicação clara entre pacientes e profissionais;
- Segurança assistencial, pois evita que quadros graves sejam negligenciados.
Em tempos de alta demanda, como em surtos de dengue ou gripe, o protocolo é fundamental para organizar o caos e salvar vidas com mais estratégia e justiça.
Aplicações do Protocolo de Manchester na prática médica
Na rotina clínica, a aplicação do Protocolo de Manchester exige integração entre diferentes profissionais da saúde, especialmente entre médicos e enfermeiros.
Embora a classificação de risco seja uma atribuição privativa do enfermeiro — conforme a Resolução do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) nº 661/2021 — o médico tem papel fundamental a partir da triagem inicial.
É ele quem define condutas, solicita exames, faz diagnósticos diferenciais e inicia o tratamento conforme o grau de urgência identificado
Ou seja, a atuação médica começa logo após a identificação da cor, e a eficácia do protocolo depende da sincronia entre os profissionais.
Em ambientes de alta demanda, essa colaboração garante que os pacientes mais críticos recebam o cuidado necessário no menor tempo possível.
Etapas e ferramentas utilizadas no Protocolo de Manchester
Durante a triagem, diversos critérios são avaliados para estabelecer a gravidade do quadro clínico:
- Escala de dor: uma das variáveis avaliadas é a dor, que pode ser subjetiva, mas segue uma escala padronizada de 0 (sem dor) a 10 (dor insuportável).
- Dor leve (1 a 4) → cor verde
- Dor moderada (5 a 7) → cor amarela
- Dor intensa (8 a 10) → cor laranja
- Equipamentos de apoio:
- Estetoscópio
- Termômetro
- Esfigmomanômetro
- Glicosímetro
- Oxímetro
- Relógio para medir frequência cardíaca
- Prontuário (impresso ou digital)
- Pulseiras ou etiquetas coloridas para identificação do nível de risco
- Tempo de triagem: em média, o processo deve durar até 4 minutos por paciente, permitindo que um profissional classifique até 15 pessoas por hora — um desafio que exige foco, agilidade e capacidade de priorização clínica.
Além disso, o médico pode solicitar a reclassificação de um paciente caso perceba, após avaliação, que o quadro evoluiu ou que há agravantes que passaram despercebidos inicialmente.
O que o futuro médico aprende com o Protocolo de Manchester?
Para além da técnica, o contato com o Protocolo de Manchester ensina valores que são essenciais na formação médica: empatia, ética e responsabilidade clínica.
Na rotina hospitalar, classificar um paciente não é apenas seguir uma escala de cores — é reconhecer a dor, priorizar vidas e tomar decisões baseadas em critérios técnicos, mesmo sob pressão.
Durante a Faculdade de Medicina, especialmente em estágios supervisionados e internato, o estudante começa a vivenciar esse cenário de forma concreta.
A atuação conjunta com a equipe de Enfermagem na triagem, a interpretação de sinais clínicos e a definição de condutas são momentos que reforçam o papel do médico como um profissional comprometido com a equidade e a segurança do paciente.
Além disso, o protocolo contribui com o desenvolvimento de competências como:
- Tomada de decisão rápida e segura;
- Análise crítica de prioridades clínicas;
- Comunicação clara com equipe e pacientes;
- Visão sistêmica do fluxo hospitalar.
Por isso, conhecer o protocolo desde a graduação prepara o futuro médico para os desafios práticos do hospital, onde cada segundo importa e cada decisão pode salvar uma vida.
Protocolo de Manchester x faculdade
Entender o Protocolo de Manchester é só uma das muitas etapas do caminho para quem deseja atuar com excelência na área da saúde.
A habilidade de tomar decisões rápidas, analisar sintomas com precisão e trabalhar em equipe começa a ser desenvolvida já na graduação.
Por isso, o primeiro passo para se tornar um médico — ou qualquer outro profissional da saúde — é escolher uma faculdade que una teoria sólida, prática qualificada e vivência real de hospital.
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